quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Contando as Horas: os contrastes de Woolf






                                               To look life in the face, always, to look life in the face, and to know it for what it is...at last, to love it for what it is, and then, to put it away...
-Virgínia Woolf
Em nosso primeiro encontro deste 2º Semestre de N.A.D.A Literal com a temática “Novas histórias, do fio ao fim: tessituras da morte nastramas literárias” contamos com a presença mais do que especial da Prof.ª Dr.ª Priscila Piazentini que nos agraciou com uma intrigante discussão sobre a obra Mrs. Dalloway, de Virgínia Woolf, e também sobre o filme As Horas, seminário este intitulado "Eu escolhi a vida": As Horas, Mrs. Dalloway e o jogo entre a vida e a morte .
Nossa convidada transitou entre cenas do filme e análises do livro, sempre apontando questões pertinentes ao tema geral de nosso semestre. A partir de suas colocações e das suas escolhas de cenas à apresentar, fomos todos levados à uma reflexão sobre o sentido da morte, mais especificamente, suicídio, e vida. 
Iniciamos com a cena do filme na qual Virgínia Woolf se mata, submergindo calmamente nas águas do rio, enquanto ouvimos a carta que deixou ao seu marido. Assim, ao contrário da ordem do mundo, iniciamos com a morte.
As vidas que observamos foram das três mulheres que compõem o filme: Virgínia Woolf, Laura Brown e Clarissa Vaughn, cada uma destas vivas em diferentes temporalidades, 1923, 1951 e 2001 respectivamente. E nestas vidas existiam angústia, tristeza, negação. Woolf, já afastada de Londres por ordens médicas sente-se morta, definindo Londres como a cidade que lhe aviva. Laura vive uma vida pacata, tradicional, com seu filho, seu marido e esperando outra criança, mas angustia-se por não desejar esta vida, que se  torna insuportável. Clarissa não vive sua vida, mas sim a de seu amigo Richard, poeta que passa pelo sofrimento da AIDS. Estas vidas estão entrelaçadas por Mrs. Dalloway, a qual Woolf escreve, Laura lê e Clarissa internaliza.
                       Duas imagens, portanto da disciplina. Num extremo, a disciplina - bloco, a instituição fechado, estabelecido à margem, e toda voltada para funções negativas: fazer parar o mal, romper as comunicações, suspender o tempo. No outro extremo, com o panoptismo, temos a disciplina - mecanismos: um dispositivo funcional que deve melhorar o exercício do poder tornando-o mais rápido, mais leve, mais eficaz, um desenho das coersões subtis para uma sociedade que está por vir. O movimento que vai de um projecto ao outro, de um esquema da disciplina de excepção ao de uma vigilância generalizado, repousa sobre uma transformações histórica: a extensão progressiva dos dispositivos de disciplina ao longo dos séculos XVII e XVIII, sua multiplicação através de todo o corpo social, a formação do que se poderia chamar grosso modo a sociedade disciplinar.
- FOUCAULT, 1997, p. 133 
Sobre tais vidas a Prof.ª Dr.ª Priscila traz Foucault, nos fala sobre a coerção e controle do corpo, a sociedade disciplinar, e Deleuze, que trata sobre a sociedade de controle e a vida como resistência ao poder. Sobre a mulher, fomos apresentados às citações de Margareth Rago e suas análises sobre a mulher, a família e o controle que esta gera na primeira.
Woolf controlada por seus médicos e seu marido, Laura Brown controlada pelo ideal familiar vivido nos anos 50 e Clarissa que controla-se vivendo em favor de Richard.
                                         
                                                                          O que significa se arrepender quando não há escolha? 
                                                                                       - Laura Brown - As Horas
A morte, neste seminário não a confrontamos, e sim a compreendemos. O suicídio perpassa as vidas do filme As Horas: Woolf deseja matar uma personagem do livro que escreve, um deles deve morrer, Laura Brown foge de sua vida e tenta cometer suicídio, mas desiste, Clarice presencia o suicídio do que era sua vida: Richard. A morte, como Woolf diz a seu marido em uma das cenas escolhidas por nossa convidada, que a morte é o contraste, que faz os que ainda vivem valorizar este momento, por isso esta deve acontecer. Apenas assim, como ocorreu com Clarissa, pode-se abandonar o fardo e enxergar-se vivo.
Finalizando com a cena do suicídio de Richard, chegamos ao fim desta surpreendente discussão.

Agradecemos à Prof.ª Dr.ª Priscila P. Vieira por suas brilhantes falas e por este momento tão agradável e impactante. Finalizamos pensando se discutir a morte nos fará enxergar a vida com novos olhos.

Por fim:

 
"Teve Bão!"



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